Escola especializada em sustentabilidade, criada por Guilherme Leal, forma primeira turma no final do ano
A demanda crescente por profissionais especializados em sustentabilidade levou o empresário Guilherme Leal, um dos controladores da fabricante de cosméticos Natura, a criar a primeira escola de pós-graduação no ramo do País. Ainda em um câmpus provisório, em Nazaré Paulista (SP), a Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade (Escas), que nasceu da parceria entre o empresário e a ONG Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê), forma no final do ano a primeira turma de mestrado profissional em conservação e sustentabilidade.
Serão 23 alunos, que devem chegar ao mercado de trabalho com diploma de mestre e uma formação que mistura ecologia e economia, em uma abordagem até então pouco explorada pelas escolas de negócios do País, na avaliação de Leal. "Não se trata de uma instituição apenas para formar gente para atuar nas empresas e órgãos públicos, que cada vez mais necessitam de profissionais com uma formação que integre economia e meio ambiente", diz. "Queremos criar um centro de referência em sustentabilidade para as Américas, talvez para o mundo, e que forme lideranças para essa nova economia de baixo carbono que está emergindo", ressalta o empresário.
Espaço para esses profissionais não deverá faltar: segundo relatório divulgado em agosto pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), nos próximos anos serão criados em torno de 500 milhões de empregos em setores da economia ligados à sustentabilidade, como o de energias renováveis, de tratamento de água e de tecnologias para minimizar os impactos das mudanças climáticas.
ECONOMIA "VERDE"
A ideia de criar uma universidade com foco na nova economia "verde" vinha sendo nutrida desde o início dos anos 2000 por Cláudio Pádua, fundador do Ipê, ONG que desenvolve pesquisas no campo da ecologia e mantém parcerias com empresas como Havaianas, Bimbo e a própria Natura. Após um encontro com Guilherme Leal, em 2006, Pádua encontrou a parceria ideal na iniciativa privada para fazer o projeto da escola deslanchar. O passo seguinte foi obter a aprovação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ligada ao Ministério da Educação. Hoje, a Escas é mantida por um fundo fiduciário que conta com recursos da Natura e também de fundações internacionais.
O curso de pós-graduação stricto sensu tem duração mínima de 18 meses e máxima de 24 meses. Até o início do ano que vem, a Escas deve inaugurar câmpus próprio em Nazaré Paulista, município onde está a sede do Ipê. O projeto de construção do câmpus, integrado à natureza, está sendo comandado pelo arquiteto Newton Massafumi, de São Paulo, e deverá contemplar os preceitos da construção ecológica, com uso de tecnologias para reduzir o consumo de água e energia e uso de materiais com certificação ambiental.
Enquanto as obras estão sendo tocadas, parte dos alunos está abrigada em um câmpus provisório em Nazaré Paulista e a outra parte assiste às aulas em Uruçuca, no sul da Bahia. "Hoje, o câmpus está onde o aluno está", diz Pádua, que também é o coordenador acadêmico da Escas. Em 2010, a expectativa da Escas é formar 80 novos mestres e investir em parcerias com outras universidades.
POLÍTICA
Recém-filiado ao Partido Verde, Guilherme Leal tem sido apontado como um nome forte para compor chapa ao lado da senadora Marina Silva (PV-AC) na corrida presidencial em 2010. "Por enquanto, isso é só especulação", diz Leal, que prefere não dar detalhes de seus planos na esfera política. "Mas quero dar minha contribuição na construção de um projeto para o País que envolva uma plataforma de sustentabilidade", afirma.
O Estado de São Paulo, 14 de Outubro de 2009